Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009

É esse cigarro, toda manhã, que te mata !

"Por que não? Não me ama mais?".

Dizia ele, olhando as pernas, aquelas pernas de louça.Era uma garota ruiva, de curvas fartas e pele clara, claríssima.Exibia uma inocência que ele achava gozado no olhar, perdido, como olhos de piá. Os cachos, perfeitos, remetiam como um redemoinho á um passado longínquo, fazendo gelar a alma do menino, como lembranças de outras vidas.Aqueles cachos, aqueles olhos, tudo isso lhe era muito familiar.
"Não me ama, né ? Nunca me amou ! Você não é capaz de amar ninguém."
Não compreendia, como poderia ser ? Esforçara-se para parecer perfeito, santo, honesto.Um bom partido, diria a sogra á ele, se ele a conhecesse.Se ela lhe permitisse fazer parte de sua vida.Como um vampiro, sentia a frustração de não ter sido convidado.
"Você é uma vaca mesmo, bem que me diziam...".
Os olhos se encontraram, enfim, e ele segura as lágrimas, cospe-as para dentro, abre imensa ferida.É o cúmulo: nos olhos da menina, existe agora apenas indiferença, frieza.Isso ele não admite.Onde estava aquela inocência que ele tanto admirava, há instantes atrás?
"Me diga que não é pelo outro, pelo menos isso, me diga que não sou corno, senão eu morro...".
Dramático.Aprendera isso desde pequenininho.Não se dava conta de quanto orgulho abrira mão neste momento, servindo de mais cimento para a decisão da menina.Agora ela tinha certeza de que estava melhor mesmo sem ele.
"É esse cigarro toda manhã que te mata, menino, não eu..." _ Assim, sem tristeza, partia.
tags:
descrataquizado por oddie às 12:10
link | comentar | ver comentários (2) | favorito
Sábado, 15 de Agosto de 2009

Ei, me arruma um cigarro, não tenho vergonha de ser só mais um viciado.

É gelado, não frio.
O cheiro é forte, mas não é esgoto, é verde, é mato. O córrego cerca meu bairro, como uma ilha, e é nessa ilha onde você compra alegria. Prefiro o pino -  farinha, o pó.
A noite nos beijava a boca e nos convidava para sair, vadiar. Encontrei meus amigos já na beira do rio, e um deles me sorrio, jogando a real : “Não vou mentir para você, dei um tiro ali, mano, e vamos ficar loucos a noite inteira.”.Estávamos em quatro, e tive a certeza de que não ficaria lúcido por muito tempo. Nem consciente. Essa coisa de uso recreativo é uma besteira, então, cheirei com tudo, até adormecer as narinas e sentir os olhos vidrados. O coração batendo forte, furando o peito, enfim vivo.
A ideia era jogar sinuca e depois ver o que faríamos. Duas ou três fichas se foram, junto com muitos cigarros, seguidos, é fácil jogar, não importa quem ganha ou quem perde, nem quem é parceiro ou quem é rival, são todos irmãos, todos na mesma canoa.
O bar fechou, caminhamos para o centro da cidade, imaginando o que a cidade reserva para nós. Não antes de darmos o próximo tiro. Comigo a segunda nunca faz efeito, ou aparenta nunca fazer efeito, só dor de cabeça. Me afastei então enquanto os outros preparavam mais três carreiras, e observei o que acontecia ao meu redor. Estávamos em cima de uma passarela, no escuro, como marginais, como nóias ( como costumamos definir os de pior situação, sujos pelos becos, deitados em suas próprias fezes, com seringas ou cachimbos nas mãos ).Lá embaixo um casal discutia, a garota gritava e tentava correr, enquanto o garoto a segurava. A coca começou a fazer efeito, então eu me sentia um agente secreto, observava as sombras, a posição de cada nóia ao meu redor, cada vizinho que poderia me caguetar, tudo fica claro com a coca, e eu me sinto um agente secreto. Chamei meu colega depois que ele mandou a carreira dele para dentro, e perguntei se agente devia descer e ver o que estava acontecendo com o casal, se o cara estava tentando machucar a menina ou coisa parecida. Quando éramos mais moços bancávamos os bons samaritanos, e até corremos atrás de um ladrão que testemunhamos roubar a bolsa de uma mulher, só pelo orgulho de parecermos heróis. Não o alcançamos, naturalmente, e talvez eu nem desejasse isso, não sou bom com essas coisas de sair na mão, muito menos com bandido. Mas dessa vez, meu amigo se deteve a dizer que provavelmente se tratava de alguma vagabunda. Eu pensei “Foda-se.” e desci sozinho, correndo, ver o que estava acontecendo. Quando eu desci, algumas pessoas que passavam pela rua estavam parando junto ao casal também, e o garoto, segurando a menina, abraçando-a bem forte, explicava que não a conhecia, mas que ela estava correndo em direção á uma passarela que estava a uns dez metros, que corta o rio Tietê. Ela gritava que queria se matar. Ela continuava chorando e gritando que ia acabar com a vida, e tentava se chocalhar, desesperada, em direção á rua onde passava vários  carros. Me senti mal por meu colega ter julgado a situação, mas no estado que estávamos não faríamos muita coisa mesmo, provavelmente, nem notaríamos se ela pulasse. Nessa mesma semana, nessa mesma passarela, um cara acabou pulando, e havia muitas viaturas e bombeiros procurando o sujeito, ou o que havia sobrado dele. É como se todos estivessem tentando fugir dessa nossa ilha.
Por outro lado, nós abraçamos a diversão, a nossa vida, com todas as forças, como se pretendessemos estar com todos os sentidos ligados, á mil por hora, com tudo que nossos trocados podem oferecer. Voar com as asas que os urubus nos dão durante o dia. Confesso, porém, que a partir daí lembro de muita pouca coisa daquela noite, mas lembro de procurar novas passarelas, novos cantos escuros, e cheirar até o pó acabar. Talvez não seja a questão de não lembrar, provavelmente, não fizemos mais nada além disso. Terminamos a noite, no mesmo lugar, na beira do rio, a beira gélida e com cheiro verde. Resolvi ir para casa, o pó havia terminado e não tinha nada a ser feito. Os meninos tinham mais alguns reais e foram trocar por mais pinos. Me despedi, moro perto da boca, mas não gosto de ir até lá, fico com o cu na mão imaginando que os gambés vão surgir a qualquer momento, ou vai acontecer uma chacina doida a qualquer hora lá. Entrei, tranquei o quarto e acendi um baseado que estava na minha gaveta ha mais de uma semana.
Observando a sombra do abajur, imaginei dragões brancos deslizando pelas paredes.

sinto-me:
tags: , ,
descrataquizado por oddie às 14:52
link | comentar | ver comentários (8) | favorito
Quinta-feira, 21 de Maio de 2009

Fresh Prince Gangsta

[tilt] Pau no template, fica aí essas pedrinhas por um tempo. [/tilt]

 

Como seria "Um maluco no pedaço" se fosse filmado nos dias de hoje ? Com a imagem que a maioria dos artistas negros norte-americanos pregam em seus video-clips, acho que seria mais ou menos assim:

 

 

Bom, e como relembrar é viver, aí vai a minha cena favorita desse seriado:

 

 

 

"Um Maluco no Pedaço", ou "The Fresh Prince of Bel-Air", no original, fez sucesso no Brasil através do nosso amado Silvio Santos.Para os com memória fraca, aqui vai o link para abertura original:

You Tube : The Fresh Prince Extended Intro

descrataquizado por oddie às 00:38
link | comentar | ver comentários (8) | favorito

.Abril 2010

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30

.posts recentes

. É esse cigarro, toda manh...

. Ei, me arruma um cigarro,...

. Fresh Prince Gangsta

.arquivos

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

.tags

. todas as tags

.links

blogs SAPO