Quinta-feira, 6 de Agosto de 2009

Histórias sobre os Excluídos, parte 3 :O discípulo embriagado

Um mestre zen tinha centenas de discípulos. Todos rezavam na hora certa - exceto um, que vivia bêbado.

O mestre foi envelhecendo. Alguns dos alunos mais virtuosos começaram a discutir quem seria o novo líder do grupo, aquele que receberia os importantes segredos da tradição.

Na véspera de sua morte, porém, o mestre chamou o discípulo bêbado e lhe transmitiu os segredos ocultos.

Uma verdadeira revolta tomou conta dos outros :

- Que vergonha ! - gritavam. - Nos sacrificamos por um mestre errado, que não sabe ver nossas qualidades.

Escutando a confusão do lado de fora, o mestre agonizante comentou:

- Eu precisava passar estes segredos para um homem que eu conhecesse bem. Todos meus alunos eram muito virtuosos, mas mostravam apenas suas qualidades. Isso é perigoso; a virtude muitas vezes esconde a vaidade, o orgulho, a intolerância. Por isso escolhi o único discípulo que eu conhecia realmente bem, já que podia ver seu defeito : a bebedeira.

descrataquizado por oddie às 23:53
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Sábado, 28 de Fevereiro de 2009

Sutra de Mbaraka-Mirim

Sou tudo aquilo que escorre pelo umbigo para dizer que talvez você esteja pensando lesmas.
Ideal mesmo é viver-sonhar alegrias, ou, ao menos, não morrer antes de ter atendido
o eterno chamado dos sapos.

 

Não existe modo melhor de usar o espaço ?

 

São índios, lesmas e sapos.

Índio universo, lesmas universo, sapos universo, e pontos, muitos pontos, pontos finais, pontos de i, j, pontos de táxi, pontos de luz, ôninus, drogas, trocas, pontos servem para demarcar e mostrar que tudo tem um fim, eu abandono os pontos, os fins.

 

Sutra do abandono.

 

Eu abandono tudo aquilo que não cante

Eu abandono as coisas fáceis, as coisas tristes

Eu abandono os livros que não entendo, as coisas que não me fazem rir

Eu abandono tudo que contenha marca, lote ou numero de série

Tudo que se compre por um real e que encha meus pulmões de febre, eu abandono as coisas que precisam de sentido para viver

Eu abandono a diagramação da página.

 

descrataquizado por oddie às 23:34
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Quinta-feira, 8 de Janeiro de 2009

vemos as coisas de modo diferente

"Esta era a jahiliyah – terra da ignorância. Esta era a América. O Grande Satã, o Arsenal do Imperialismo, o Financiador do Sionismo, o Bastião do Neocolonialismo.Lar de Hollywood e das putas loiras em nylon preto.A terra dos F-15 equipados com mísseis que disparam sobre o céu de Deus, numa vaidade pagã.A terra de frotas nucleares globais, canhões disparando obuses grandes como carros.

Esqueceram que atiravam em nós, que nos bombardearam, nos difamaram e armaram nossos inimigos. Não têm memória, os americanos, nem história. O vento passa por eles, e o passado se vai. São como folhas mortas."

Bruce Stering ( sua imaginação é pura bizarrice )

 

[---]

 

 

 Somos Todos Palestinos

 

 Somos Todos Palestinos


descrataquizado por oddie às 12:52
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Domingo, 21 de Dezembro de 2008

Carne fresca

"A pior coisa do suicídio é não morrer."

 

Certo dia, uma cadela no cio fugia desesperadamente de um bando de cachorros sarnentos que queriam a todo custo penetrá-la e cumprir seu papel na natureza. Assustada, a coitada se enfiou embaixo de um ônibus estacionado, em vão, pois todos os outros cães, cerca de uns 9 ou 10, a seguiriam até ao inferno se fosse preciso. E foi o que fizeram. Não ligaram quando o motorista distraído decidiu dar a partida no ônibus, dando início ao que seria o maior massacre canino que essa cidade já viu desde os tempos da carrocinha. Carne fresca.
O Dean diz que isso se chama Deus. Um menino atira pedras nos carros que passam na rodovia. Uma hora, a pedra atingirá o alvo, quebrará o pára-brisa, e causará algum acidente mortal. Simples assim. A morte na mão de um simples menino que atira pedras. Sem nenhum pecado nem pavor.
Essa noite eu me deprimi profundamente, e precisei sair para exorcizar meus demônios. E o fiz, com uma bela garrafinha de Corote.
Tudo o que eu precisava era pensar, mas foi a ultima coisa que aconteceu, pois caminhando pela madrugada, fiquei atento ao que ela oferece não sobrando tempo de me distrair e encontrar a resposta que procurava. Ao invés disso, encontrei mais pânico, vertigem, obsessão.
Voltei pior do que estava. Deitei na cama de tênis e tudo, pensando seriamente em suicídio. A pior coisa do suicídio é não morrer. Então, calculei quantos metros são necessários para ter certeza que será o seu fim.
Aqui existe uma ponte que passa por cima do Castelo Branco.
Peguei um pedaço papel e escrevi minha despedida e meus motivos e deixei em cima do meu travesseiro - talvez um dia eu a poste aqui -, e sai na madrugada, feito um cavaleiro marginal selando seu destino na própria carne. Carne fresca. Menos de dez minutos, me encontrava na tal ponte, olhando os carros bêbados de gente que curtia o carnaval, e pensei "o maior gesto de insubordinação que existe, é não existir." e me preparei para pular, quando uma mão me puxou pelos ombros, me jogando no chão e estragando todo o romantismo do meu ato (pois eu achei essa frase, última da minha vida, perfeita).
Era um senhor moreno, de cabelos grisalhos. Vestia um terno marrom que não combinava com a gravata azul meio roxo. Perguntou-me se eu estava bem, e eu comecei a chorar, abraçando-o forte.Então ele me disse : Menino...tudo sofre no mundo, porém Nele, tudo espera e tudo suporta...
Aquilo gelou o meu corpo, e nesse momento comecei a parar de chorar. Olhei para os olhos castanhos do velho, e um meio-sorriso se formou em seu rosto mulato. E ele continuou: ...não seja carne fresca para aqueles que desejam o seu fim.
O tempo parou.
Ajudou-me a levantar e caminhou comigo pela ponte, até uma praça que existe perto dali. Colocou-me no banco, e saiu caminhando calmamente pela noite, até sumir pelas ruas estreitas e mal iluminadas. Fiquei algum minuto ali sentado, olhando as árvores, perguntando á elas o que havia acontecido, e que merda de motivo afinal de contas era aquele, para eu ter estado tão deprimido a ponto de ter tentado me matar. Já não estava sentindo raiva nem rancor, nem tristeza, nem angustia... Só vergonha.
E comecei então a me empolgar com tudo isso, com o fato de ainda estar vivo, com a coisa maravilhosa e incrível que havia acontecido, e com as coisas que eu ainda irei realizar. Voltei para casa, dormi e sonhei como nunca em toda minha vida.

 

 

descrataquizado por oddie às 17:49
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Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2008

Praga de Cigana

Eu tinha inventado de levar a Angela para ver a Estação Ciência lá na Lapa. Meu nome é Alíson.Escondo o nome pois assim Deus não me encontra quando lê minhas blasfêmias.Acho que estou enganado:

Quem é de Sampa sabe, a Lapa é um covil de ciganas. Belas, asmáticas, desdentadas. Todo tipo de ciganas está lá. E, claro, aquelas que lêem a mão por um real.

Elas vêm de manso e te agarra a mão por trás, e não larga, observando suas linhas. Você até tenta acompanhar enquanto ela solta inúmeras previsões previsíveis. Por dó, soltei um real. Quando imaginei que ela finalmente me libertaria e eu pudesse continuar o meu passeio, ela revela meu trágico fim.

- Você vai morrer.

Olhei espantado para aqueles olhos negros. Era uma senhora curvada, cheia de ouro nos anéis, brincos e nos poucos dentes, com uma roupa que parecia mais toalha de mesa ou roupa de São João. As rugas eram escuras, fundas. Juro que chegava aos ossos.

- Vai morrer, dá pra ver... Olha aqui.

Tentei procurar nas linhas, ler o meu futuro maldito.Mas era em vão: eu era um analfabeto e ela era uma tecelã do tempo. Só ela sabe o que me aguarda.

- Solta minha mão, eu paguei por isso? Charlatã! Quero que você leia minha sorte, não meu azar...

- Que pena, vai morrer jovem, de nada me serve o seu dinheiro, toma de volta.

- Ah?... Bom, já que é assim, me diga pelo menos do que eu vou morrer... Vai doer?

- Para que? Em breve você saberá...

E ela fez um sinal com os dedos, erguendo três de uma vez. Era o sinal secreto dos ciganos, que significa o mesmo que bater na madeira para nós.

As outras ciganas, mais jovens, disse que era para eu não ter medo, que ela gostava de assustar as pessoas com essas coisas. Perguntei se não tinha perigo que ela me soltasse uma praga, pois ela saiu me encarando com raiva.Porém elas me garantiram que praga de cigana só funciona depois de sete anos.

Menos mal. Tenho mais sete anos de vida.

 

descrataquizado por oddie às 16:30
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