"Teu sorriso
Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta.
Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro; dêem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei, feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.
(Vinícius de Moraes, in “Para Viver um Grande Amor”, Livraria José
Olympio Editora S. A., 1984)
Passo os primeiros anos de minha vida adulta procurando pelo não sei o que.
Tempo, tenho muito medo.
Se a vida fosse menos ingrata, o tempo seria menos maldoso quando estamos nos divertindo.
Condenados somos nós, pobres bipedes falantes, fardados a caminhar ás cegas pelo túnel, com a luz de uma vela ao longe, aos poucos, se apagando.
O escapismo desleal da felicidade, és tu, minha doce Galatéia.
Minha linda, Galatéia.
súbito ataque de carinho.
Pois te confesso que paixão não existe, paixão agente inventa e segue assim,
assistindo a todos os televisores ligados.
Big Brother is watching you.
É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.
E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: "É hora de embriagar-se! Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser.
Charles Baudelaire
tradução: Jorge Pontual
Os partidos políticos brasileiros não têm nenhuma preocupação em trazer a UTOPIA para o quotidiano. Por isso em nome da saúde mental das novas gerações eu reivindico o seguinte:
1 - Transformar a Praça da Sé em horta coletiva & pública.
2 - Distribuir obras dos poetas brasileiros entre os garotos (as) da Febem, únicos capazes de transformar a violência & angústia de suas almas em música das esferas.
3 - Saunas para o povo.
4 - Construção urgente de mictórios públicos (existem pouquíssimos, o que prova que nossos políticos nunca andam a Pé ) & espelhos.
5 - Fazer da Onça (pintada, preta & suçuarana) o Totem da nacionalidade. Organizar grupos de Proteção à Onça em seu habitat natural. Devolver as onças que vivem trançadas em zoológicos às florestas. Abertura de inscrições para voluntários que queiram se comunicar telepaticamente com as onças para sabermos de suas reais dificuldades. Desta maneira as onças poderiam passar uma temporada de 2 semanas entre os homens & nesse período poderiam servir de guias & professores na orientação das crianças cegas.
6 - Criação de uma política eficiente & com grande informação ao público em relação aos Discos-Voadores. Formação de grupos de contato & troca de informação. Facilitar relações eróticas entre terrestres & tripulantes dos OVNIS.
7 - Nova orientação dos neurônios através da Gastronomia Combinada & da Respiração.
8 - Distribuição de manuais entre sexólogas (os) explicando por que o coito anal derruba o Kapital
9 - Banquetes oferecidos à população pela Federação das Indústrias.
10 - Provocar o surgimento da Bossa-Nova Metafísica & do Pornosamba. O Estado mantém as pessoas ocupadas o tempo integral para que elas NÃO pensem eroticamente, libertariamente. Novalis, o poeta do romantismo alemão que contemplou a Flor Azul, afirmou: "Quem é muito velho para delirar evite reuniões juvenis. Agora é tempo de saturnais literárias. Quanto mais variada a vida tanto melhor ". Roberto Piva
Vou recolher minhas sementinhas, plantar milhões de aspargos, ver a lágrima deslizar, penina, na imensidão de sua mudez repentina. Vou esquecer que já foste minha, me enrabar com meu ego depressinha, copular em teu útero, menina. Vou dedilhar meus espaços vazios, escrever coisas sem sentido, te tirar pra dançar, columbina. Vou escrever um poema perdido, dizer como em luto seu nome, te citar com a palavra profana, e te ninar, para sempre, .
Too much is enough
Of that girl Gorgo
Safo
Concha de nenhum mar
Casulo pegando um sol
Segredo de dedos mútuos
Cão pequeno e
vulgar céu
precipitado inseto
de uma voz coleante
côncava, con-
sentida
obviando
a morte
Regis Bonvicino
Caetano Veloso
Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
Toda mulher é uma assassina em série de corações – sempre te oferecendo, grandes ou pequenos, duros ou fofinhos, esses dois peitos com todos os frutos da terra prestes a serem teus.
Ai, que são teus, só teus – e te matam, ai e sim, docemente de gozo.
Toda mulher é uma assassina em série de corações – sempre te oferecendo, grandes ou pequenos, duros ou fofinhos, esses dois peitos com todos os frutos da terra prestes a serem teus.
Ai, que são tantos e não são teus – e mil vezes por dia te matam docemente só de vê-los.
Trevisan
"___________e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás
um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando"
Viviane Mosé
A fala transforma-se em movimento, movimentos forçados, movimentos pesados. Devagar, tudo à volta parece ganhar outro ritmo, outras cores, outros e outros. Nada penetra os ouvidos, um silêncio barulhento.
Não cheira, mas fede, um cheiro insuportável e sufocante. Os gestos parecem se repetir em mim, no coração, nos pulmões. É preciso fazer esforço para se manter vivo, para não acabar como uma estátua de pedra, imóvel, insensível.
Insensível? Não, toda essa lentidão, esse esforço, essa falta de sentido, trás uma sensibilidade incompreensível, todas as coisas triviais ganham a importância de um mundo inteiro, o nada se torna tudo, o mais simples agora é o mais complexo. Tudo sobe aos olhos, imóveis, perdidos, tudo se torna responsabilidade deles. Arde, arde segurar as lágrimas subindo...
Mas se elas tornam a cair, ah! se elas tornam a cair tudo se perde...
Toda essa compreensão miúda se vai quando as lágrimas caem...
Acho que estou virando mármore.As cinzas dessa cidade entope cada poro do meu corpo, me intoxicando.Minha aparência é cinza, pálida, sem cor.Rotina nada mais é do que um apêndice inflamado em brasa, já incapaz de ser operado.Estou virando mármore.
A cada banho, assisto lentamente a poeira da metrópole escorrendo pelo ralo e se escondendo debaixo de minhas unhas, apodrecendo meu âmago, cada vez mais fundo, mais frio, duro como mármore.Virei mármore.
Segundo o enciclopédia, mármore é "uma rocha metamórfica originada de calcário exposto a altas temperaturas e pressão."
Tem gente que não suporta pressão.E a cabeça explode.
Bum !
Como um peixe-gato invertido,
a menina nada em águas profanas de juízo final. Como um peixe espada felino, a menina nada em águas perigosas de dilúvio, quarenta dias e quarenta noites, espiando os antigos templos de civilizações antigas, os trinta e três monumentos de maravilhas que Deus fez questão de destruir. A menina era um peixe.
Um peixe fértil de mentiras.
Nós somos as inorgânicas
Frias estátuas de talco
Com hálito de champagne
E pernas de salto alto
Nossa pele fluorescente
É doce e refrigerada
E em nossa conversa ausente
Tudo não quer dizer nada.
Nós somos as longilíneas
Lentas madonas de boate
Iluminamos as pistas
Com nossos rostos de opala.
Vamos em câmara lenta
Sem sorrir demasiado
E olhamos como sem ver
Com nossos olhos cromados.
Nós somos as sonolentas
Monjas do tédio inconsútil
Em nosso escuro convento
A ordem manda ser fútil
Fomos alunas bilíngües
De "Sacre-Coeur" e "Sion"
Mas adorar, só adoramos
A imagem do deus Mamon.
Nós somos as grã-funestas
Filhas do Ouro com a Miséria
O gênio nos enfastia
E a estupidez nos diverte.
Amamos a vida fria
E tudo o que nos espelha
Na asséptica companhia
Dos nossos machos-de-abelha.
Nós somos as bailarinas
Pressagas do cataclismo
Dançando a dança da moda
Na corda bamba do abismo.
Mas nada nos incomoda
De vez que há sempre quem paga
O luxo de entrar na roda
Em Arpels ou Balenciaga.
Nós somos as grã-funestas
As onézimas letais*
Dormimos a nossa sesta
Em ataúdes de cristal
E só tiramos do rosto
Nossa máscara de cal
Para o drinque do sol posto
Com o cronista social.
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