Sexta-feira, 28 de Agosto de 2009

e agora um Deus dançou em mim

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Sábado, 15 de Agosto de 2009

Ei, me arruma um cigarro, não tenho vergonha de ser só mais um viciado.

É gelado, não frio.
O cheiro é forte, mas não é esgoto, é verde, é mato. O córrego cerca meu bairro, como uma ilha, e é nessa ilha onde você compra alegria. Prefiro o pino -  farinha, o pó.
A noite nos beijava a boca e nos convidava para sair, vadiar. Encontrei meus amigos já na beira do rio, e um deles me sorrio, jogando a real : “Não vou mentir para você, dei um tiro ali, mano, e vamos ficar loucos a noite inteira.”.Estávamos em quatro, e tive a certeza de que não ficaria lúcido por muito tempo. Nem consciente. Essa coisa de uso recreativo é uma besteira, então, cheirei com tudo, até adormecer as narinas e sentir os olhos vidrados. O coração batendo forte, furando o peito, enfim vivo.
A ideia era jogar sinuca e depois ver o que faríamos. Duas ou três fichas se foram, junto com muitos cigarros, seguidos, é fácil jogar, não importa quem ganha ou quem perde, nem quem é parceiro ou quem é rival, são todos irmãos, todos na mesma canoa.
O bar fechou, caminhamos para o centro da cidade, imaginando o que a cidade reserva para nós. Não antes de darmos o próximo tiro. Comigo a segunda nunca faz efeito, ou aparenta nunca fazer efeito, só dor de cabeça. Me afastei então enquanto os outros preparavam mais três carreiras, e observei o que acontecia ao meu redor. Estávamos em cima de uma passarela, no escuro, como marginais, como nóias ( como costumamos definir os de pior situação, sujos pelos becos, deitados em suas próprias fezes, com seringas ou cachimbos nas mãos ).Lá embaixo um casal discutia, a garota gritava e tentava correr, enquanto o garoto a segurava. A coca começou a fazer efeito, então eu me sentia um agente secreto, observava as sombras, a posição de cada nóia ao meu redor, cada vizinho que poderia me caguetar, tudo fica claro com a coca, e eu me sinto um agente secreto. Chamei meu colega depois que ele mandou a carreira dele para dentro, e perguntei se agente devia descer e ver o que estava acontecendo com o casal, se o cara estava tentando machucar a menina ou coisa parecida. Quando éramos mais moços bancávamos os bons samaritanos, e até corremos atrás de um ladrão que testemunhamos roubar a bolsa de uma mulher, só pelo orgulho de parecermos heróis. Não o alcançamos, naturalmente, e talvez eu nem desejasse isso, não sou bom com essas coisas de sair na mão, muito menos com bandido. Mas dessa vez, meu amigo se deteve a dizer que provavelmente se tratava de alguma vagabunda. Eu pensei “Foda-se.” e desci sozinho, correndo, ver o que estava acontecendo. Quando eu desci, algumas pessoas que passavam pela rua estavam parando junto ao casal também, e o garoto, segurando a menina, abraçando-a bem forte, explicava que não a conhecia, mas que ela estava correndo em direção á uma passarela que estava a uns dez metros, que corta o rio Tietê. Ela gritava que queria se matar. Ela continuava chorando e gritando que ia acabar com a vida, e tentava se chocalhar, desesperada, em direção á rua onde passava vários  carros. Me senti mal por meu colega ter julgado a situação, mas no estado que estávamos não faríamos muita coisa mesmo, provavelmente, nem notaríamos se ela pulasse. Nessa mesma semana, nessa mesma passarela, um cara acabou pulando, e havia muitas viaturas e bombeiros procurando o sujeito, ou o que havia sobrado dele. É como se todos estivessem tentando fugir dessa nossa ilha.
Por outro lado, nós abraçamos a diversão, a nossa vida, com todas as forças, como se pretendessemos estar com todos os sentidos ligados, á mil por hora, com tudo que nossos trocados podem oferecer. Voar com as asas que os urubus nos dão durante o dia. Confesso, porém, que a partir daí lembro de muita pouca coisa daquela noite, mas lembro de procurar novas passarelas, novos cantos escuros, e cheirar até o pó acabar. Talvez não seja a questão de não lembrar, provavelmente, não fizemos mais nada além disso. Terminamos a noite, no mesmo lugar, na beira do rio, a beira gélida e com cheiro verde. Resolvi ir para casa, o pó havia terminado e não tinha nada a ser feito. Os meninos tinham mais alguns reais e foram trocar por mais pinos. Me despedi, moro perto da boca, mas não gosto de ir até lá, fico com o cu na mão imaginando que os gambés vão surgir a qualquer momento, ou vai acontecer uma chacina doida a qualquer hora lá. Entrei, tranquei o quarto e acendi um baseado que estava na minha gaveta ha mais de uma semana.
Observando a sombra do abajur, imaginei dragões brancos deslizando pelas paredes.

sinto-me:
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Sexta-feira, 19 de Junho de 2009

Opereta Do Moribundo

I Funeral de rico


Rico quando vai
Desta vida, sempre vai de mau humor
Ir deitado de casaca é um terror
Abafado e morto de calor
Aturar a marcha fúnebre

Só de imaginar
Que os amigos vão deitar nos seus sofás
Vão tomar os seus vermutes, os seus cristais
E as suas mulheres principais
Já na beira do seu túmulo

- Gente, quanta gente
Que excelente funeral
- Ficas bem de preto
E o cabelo ao natural
- Dizem que o eminente
Triplicou seu capital
- Vai sobrar para gente
Que nem viu ele vivo
- Tem até donativo
Para as obras do hospital


II Enterro de pobre


Pobre quando vai
Sempre dizem que ele vai para uma melhor
Vai olhando aquela gente ao seu redor
Todos com poeira e com suor
Ele achando a coisa ótima

Só de imaginar
Que os amigos vão pagar o seu caixão
O barbeiro, o aluguel do rabecão
O vinho do padre, o sacristão
E o sermão na igreja gótica

- Gente, não tem gente
Tem parente pobre só
- Esse teu modelo
Mais parece um dominó
- Nem o indigente
Quis herdar o seu palitó
- Vai sobrar para a gente
Que nem viu ele vivo
- Tem até um passivo
No caderno do Jacó

 

 

música: (Edu Lobo - Chico Buarque)
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Quarta-feira, 13 de Maio de 2009

Vestido Verde

O vento do litoral sobrava em nossos rostos.Observava com delicadeza as grossas pernas dentro daquele vestidinho verde.

Não lembro seu nome, sou daqueles que esquecem detalhes depois de algumas doses.Era noite, já havia passado o reveillon, mas as praias continuariam em clima de rave por semanas, brasileiradas, com funk e psy por todo lugar.Não danço, mas para conquista-la eu abriria uma exceção.Afinal de contas, o álcool já havia aberto o chakra dos meus movimentos dançantes.

Eu estava visivelmente alterado, os passos de funk já não são muito sutis, normalmente, porém eu estava praticamente acasalando com a moça.Mas acho que ela estava gostando, pois apertava o seu bumbum contra meu colo, para sentir se o que havia ali dentro estava realmente acordado.Pegou na minha mão, e então, fomos nos afastando em direção ao mar, em direção ao escuro.

Foi fácil arrancar o vestido, enquanto ela abria minha calça para a felação tomar forma.Nunca havia transado na praia, na areia, com pessoas ao longe dançando, bebendo, gritando.O mar, o vento, e gotas de uma garoa fina não atrapalhavam de modo algum o momento, só o enaltecia.

Voltamos para junto do pessoal, e a festa onde estávamos já estava acabando, com os Djs recolhendo o equipamento.Resolvemos ir para outro lugar, e havia essa espécie de salão na praia, uma oca gigantesca e cobrando 20 pilas para entrar....resolvi mijar, enquanto o pessoal na frente da porta decidia se entraria ou não.Lá atras, enquanto mijava, reparei que havia um pequeno movimento de pessoas entrando e saindo, do salão para a praia, e havia só um único segurança que não parecia estar prestando muita atenção em se estava entrando alguem sem ter pagado.Chamei o pessoal para entrar na cara dura, e fui na frente.Passei imperceptível, e os outros me seguiram.

Só estava tocando musica eletrônica, e um pouco de trash 80's.Quando estava de saco cheio, ia até a porta e observava o mar, o vento.E foi justamente numa dessas idas, que eu a vi.Parada na janela com seu vestidinho verde, ela olhava para o longe enquanto uma lágrima escorria em seu rosto.Abracei-a forte por trás e disse que tudo ia ficar bem.Seu namorado nos observava de longe, e ainda dei uma ultima fitada em seus olhos vermelhos, antes de ver-lo ir embora.

 

 

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Terça-feira, 12 de Maio de 2009

fada do meu butequim

Vou recolher minhas sementinhas, plantar milhões de aspargos, ver a lágrima deslizar, penina, na imensidão de sua mudez repentina. Vou esquecer que já foste minha, me enrabar com meu ego depressinha, copular em teu útero, menina. Vou dedilhar meus espaços vazios, escrever coisas sem sentido, te tirar pra dançar, columbina. Vou escrever um poema perdido, dizer como em luto seu nome, te citar com a palavra profana, e te ninar, para sempre,                   .

 

 

 

sinto-me:
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Quinta-feira, 22 de Janeiro de 2009

á pequena columbina

da série de cartinhas de amores diferentes que ficaram para trás

 

"Sabe, talvez seja por ter te esbarrado numa fase meio escura que é aquela em que os meninos são jogados no mundo sujo dos adultos, ou talvez seja por causa do meu ambiente não possuir o mesmo brilho que eu se lembrava do tempo das tardes quentes e intermináveis que precedia os natais, tardes que eu adoro e que aparentam estar perdidas em algum lugar distante no passado, ou talvez seja mais um amorzinho bom, bobo e platônico, que agente acaba de um jeito ou de outro tentando esquecer.

É Columbina, são esses "talvezes" todos que dão um brilho diferente ao seu sorriso, um brilho capaz de preencher um pouco a mais de vida momentos como esse, em que no silencio do meu quarto, sentado na frente do computador, posso sentir de uma maneira terna e angustiante a certeza de que ainda exista alguma coisa bela e pura no meio de todo esse caos que se encontram os homens, que no meio de tudo isso exista algo perfeito, e isso é você, esse é seu dom, e disso eu não desistiria nunca...

Mesmo talvez sendo nada mais do que mais um.

( um "mais um" bem ausente, se quer saber )
·... mas como eu disse, essas coisas são feitas de talvez, e que 2008 seja repleto deles... "

 

 

"...E a tarde se desfaz caindo assim a noite aproximando esses seres separados por questões, reunidos pelo melhor deles: a compreensão e o amor que sentiam  um pelo outro !!!"

 

não um alerquim, não um pierrot

 

um Anjo.

 

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Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2009

a situação do velho que olhava os carros

Possuía feições grosseiras. Completava com a barba cerrada, mal-feita. O jeans rasgado e sujo ajudava na aparência desleixada. Camisetas repetidas causavam a estranha sensação de deja-vu nos seus poucos companheiros de rua.

Físico parco refletia junto aos olhos escuros todo vazio e a dor de vinte três anos perdidos. Há quem acredite que ele nunca amou - apesar de ter sido esse suposto amor o responsável pela sua reclusão.

 

Encontrou a infeliz na cama com outro, Artigo 121, Homicídio.

- Tá, aí você matou o cara, né ? – perguntei.

- Matei ela, claro.Esganei a safada até ela morrer. – concluiu.

Na delegacia estourou os outros B.O. : 155, 157 e 157, parágrafo 3.º, segunda parte, Latrocínio, roubo seguido de morte. Vinte e três anos de prisão. Vinte e três anos de prisão, cumpridos a risca, por um sistema penitenciário que tende a engolir pelo o esquecimento os pobres, os pretos. Vinte três anos é tempo suficiente para perder os pais, a família, e a vida. Vinte e três anos é o número que marca rugas, um garoto de vinte anos cheio de rugas, perdido no tempo, na rua. Talvez ele mereça.

Ele acredita que não.

- Vinte três anos... Que situação... Que situação... – dizia, fitando o horizonte.

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Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2009

Deus, Capiau e o banheiro entupido.

limpar a merda alheia e se sentir bem com isso

 

Se fosse necessário resumir um grande ensinamento, de um grande bodisatva, eu diria ame o seu próximo. Quem consegue oferecer sua outra face à tapa?

Acredito que grande parte dos que se dizem cristãos não conseguem entender que todo o resto não importa muito, pois essas palavras são a verdadeira essência de Cristo. Jesus veio e foi crucificado por pregar que Deus é amor, e vivo discutindo com meus amigos sobre esse tema. Ora, assistimos a um mundo que sempre escreveu sua história com sangue, nunca foi diferente e às vezes peco ao imaginar que nunca será.

Ontem, discuti com meus pais. Eles estavam ensinando a minha prima de três anos a revidar quando a vizinha, também na faixa dos três anos, batesse nela. Percebi que desde pequenos, somos ensinados a odiar nosso próximo, pagando sempre na mesma moeda (e com um trocado a mais) o mal que nos é imposto.

Pouco depois de lhes dizer isso, fui para o meu quarto passar um tempo com a namorada, quando minha mãe inventou de lavar meu banheiro. O banheiro estava todo cagado e entupido, e o ultimo a usar foi um rapaz que mora lá em casa, o Capiau.

Ela, como sempre, colocou a culpa em mim, que frustrado pela merda alheia, senti uma ânsia e raiva infinita da cara de pau do intruso, continuando a negar que a merda não era dele. Eu conheço minha merda, desde a sua cor á sua forma, e aquela definitivamente não era minha.

Minha mãe, sempre com muito mais compaixão com os hospedes do que com o próprio filho, deixou para lá e resolveu desentupir a privada. Eu não permitiria que ela fizesse aquele esforço por causa de um retardado, então, resolvi desentupir, mesmo xingando e dizendo que ele nunca mais usaria meu banheiro.

Depois de dar a ultima descarga, percebi o quanto era hipócrita. Prego a Deus e o mundo contra esses cristãos de araque que não conseguem entender meia palavra do que seus profetas dizem, sem um ladrão na frente deles para dizer-lhes em que acreditar. E eu não consigo seguir minhas próprias convicções, esqueço da gentileza dos sábios, da complacência de limpar a merda alheia e se sentir bem com isso.

Jesus e Buda dizem a mesma coisa e ninguém consegue ouvir. Se alguém conseguir seguir um terço do que pregam, descobriria o verdadeiro significado da vida.Eu ainda estou tentando.

 

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Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2008

you radiate charm

A fala transforma-se em movimento, movimentos forçados, movimentos pesados. Devagar,  tudo à volta parece ganhar outro ritmo, outras cores, outros e outros. Nada penetra os ouvidos, um silêncio barulhento.

Não cheira, mas fede, um cheiro insuportável e sufocante. Os gestos parecem se repetir em mim, no coração, nos pulmões. É preciso fazer esforço para se manter vivo, para não acabar como uma estátua de pedra, imóvel, insensível.

Insensível? Não, toda essa lentidão, esse esforço, essa falta de sentido, trás uma sensibilidade incompreensível, todas as coisas triviais ganham a importância de um mundo inteiro, o nada se torna tudo, o mais simples agora é o mais complexo. Tudo sobe aos olhos, imóveis, perdidos, tudo se torna responsabilidade deles. Arde, arde segurar as lágrimas subindo...

Mas se elas tornam a cair, ah! se elas tornam a cair tudo se perde...

Toda essa compreensão miúda se vai quando as lágrimas caem... 

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Domingo, 21 de Dezembro de 2008

Carne fresca

"A pior coisa do suicídio é não morrer."

 

Certo dia, uma cadela no cio fugia desesperadamente de um bando de cachorros sarnentos que queriam a todo custo penetrá-la e cumprir seu papel na natureza. Assustada, a coitada se enfiou embaixo de um ônibus estacionado, em vão, pois todos os outros cães, cerca de uns 9 ou 10, a seguiriam até ao inferno se fosse preciso. E foi o que fizeram. Não ligaram quando o motorista distraído decidiu dar a partida no ônibus, dando início ao que seria o maior massacre canino que essa cidade já viu desde os tempos da carrocinha. Carne fresca.
O Dean diz que isso se chama Deus. Um menino atira pedras nos carros que passam na rodovia. Uma hora, a pedra atingirá o alvo, quebrará o pára-brisa, e causará algum acidente mortal. Simples assim. A morte na mão de um simples menino que atira pedras. Sem nenhum pecado nem pavor.
Essa noite eu me deprimi profundamente, e precisei sair para exorcizar meus demônios. E o fiz, com uma bela garrafinha de Corote.
Tudo o que eu precisava era pensar, mas foi a ultima coisa que aconteceu, pois caminhando pela madrugada, fiquei atento ao que ela oferece não sobrando tempo de me distrair e encontrar a resposta que procurava. Ao invés disso, encontrei mais pânico, vertigem, obsessão.
Voltei pior do que estava. Deitei na cama de tênis e tudo, pensando seriamente em suicídio. A pior coisa do suicídio é não morrer. Então, calculei quantos metros são necessários para ter certeza que será o seu fim.
Aqui existe uma ponte que passa por cima do Castelo Branco.
Peguei um pedaço papel e escrevi minha despedida e meus motivos e deixei em cima do meu travesseiro - talvez um dia eu a poste aqui -, e sai na madrugada, feito um cavaleiro marginal selando seu destino na própria carne. Carne fresca. Menos de dez minutos, me encontrava na tal ponte, olhando os carros bêbados de gente que curtia o carnaval, e pensei "o maior gesto de insubordinação que existe, é não existir." e me preparei para pular, quando uma mão me puxou pelos ombros, me jogando no chão e estragando todo o romantismo do meu ato (pois eu achei essa frase, última da minha vida, perfeita).
Era um senhor moreno, de cabelos grisalhos. Vestia um terno marrom que não combinava com a gravata azul meio roxo. Perguntou-me se eu estava bem, e eu comecei a chorar, abraçando-o forte.Então ele me disse : Menino...tudo sofre no mundo, porém Nele, tudo espera e tudo suporta...
Aquilo gelou o meu corpo, e nesse momento comecei a parar de chorar. Olhei para os olhos castanhos do velho, e um meio-sorriso se formou em seu rosto mulato. E ele continuou: ...não seja carne fresca para aqueles que desejam o seu fim.
O tempo parou.
Ajudou-me a levantar e caminhou comigo pela ponte, até uma praça que existe perto dali. Colocou-me no banco, e saiu caminhando calmamente pela noite, até sumir pelas ruas estreitas e mal iluminadas. Fiquei algum minuto ali sentado, olhando as árvores, perguntando á elas o que havia acontecido, e que merda de motivo afinal de contas era aquele, para eu ter estado tão deprimido a ponto de ter tentado me matar. Já não estava sentindo raiva nem rancor, nem tristeza, nem angustia... Só vergonha.
E comecei então a me empolgar com tudo isso, com o fato de ainda estar vivo, com a coisa maravilhosa e incrível que havia acontecido, e com as coisas que eu ainda irei realizar. Voltei para casa, dormi e sonhei como nunca em toda minha vida.

 

 

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Segunda-feira, 15 de Dezembro de 2008

Confissão de um Paulista

Acho que estou virando mármore.As cinzas dessa cidade entope cada poro do meu corpo, me intoxicando.Minha aparência é cinza, pálida, sem cor.Rotina nada mais é do que um apêndice inflamado em brasa, já incapaz de ser operado.Estou virando mármore.
A cada banho, assisto lentamente a poeira da metrópole escorrendo pelo ralo e se escondendo debaixo de minhas unhas, apodrecendo meu âmago, cada vez mais fundo, mais frio, duro como mármore.Virei mármore.
Segundo o enciclopédia, mármore é "uma rocha metamórfica originada de calcário exposto a altas temperaturas e pressão."
Tem gente que não suporta pressão.E a cabeça explode.
Bum ! 

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Terça-feira, 9 de Dezembro de 2008

Ódio/Amor

Garimpando os e-mails, fiquei pasmo.Não é sempre que se encontra cartas de amor assim, no meio de e-mails sobre "Enlarge your penis now.".Me fez sorrir como um idiota.Isso tudo aconteceu a mais ou menos 3 anos, e eu me sinto a criança mais feliz do mundo.

Onde será que foi parar essa menina que me odiava tanto ?

 

"TE ODEIO.

 

Te odeio mais do que tudo.
Odeio o fato de ter levantado da cama e ter ligado o computador apenas pra te escrever essa merda de e-mail só pra dizer que te odeio.
Odeio pensar que a única pessoa que eu queria que estivesse do meu lado é você. Odeio pensar que só você pode me salvar. Que só você me entende, me acalma e que só você se preocupa comigo...
Patética. Sou a menina de 15 anos mais patética que existe.
Eu vivo num mundo falso. Cheio de ilusões.
É tão horrível saber que de alguma forma eu realmente acredito que um dia você vai estar aqui.
É tão besta pensar que talvez você pudesse largar tudo e vim pra cá, só por minha causa, só pra me proteger...
É tão idiota eu estar te falando tudo isso. Eu te odeio.
Odeio o modo como você fez eu me sentir especial inúmeras vezes
Odeio acreditar quando você diz que me ama.
Odeio o modo como você conseguiu fazer eu criar essas ilusões todas.
Odeio achar que eu preciso de você... e só de você.

Odeio você por ter me ensinado que o contrário de amor não é o ódio.

Eu queria sumir da sua vida...
E que você sumisse da minha.
Que eu deixasse de acreditar que existe algum motivo pra um dia você ter me adicionado no MSN, do nada.
Odeio você porque você me faz chorar.

 

"Mas eu odeio principalmente
Não conseguir te odiar
Nem um pouco
Nem mesmo por um segundo
Nem mesmo só por te odiar" 

 

resposta :

 

TE AMO.

 

Te amo mais do que tudo.
Adoro o fato de ser 3:48 da manhã e ao invés de estar dormindo,estar olhando antigas fotos da garota mais complexa que conheço.Uma gorata linda.
Gosto de pensar que a única pessoa que eu queria que estivesse do meu lado é você. Só você pode me salvar.
Patético. Sou um cara de 18 anos mais patético que existe.
Eu vivo num mundo falso. Cheio de ilusões.
É tão horrível saber que de alguma forma eu realmente acredito que um dia vou estar do seu lado?
É tão besta pensar que talvez você quisesse um cara como eu, para te amar, para te proteger...?
Talvez eu seja um idiota... mas eu te amo.
É bom saber que você é especial para alguém...
Especialmente quando esse alguém é quem vc ama...
Se agente deseja,ilusões tornam-se realidade (a dura realidade).
Mas distancias geográficas não são coisas impossíveis de serem quebradas.
Basta se esforçar.Preciso de você.

E você precisa de mim.

Para continuar te ensinando que o contrário de amor não é o ódio.

 

Não vou sumir da sua vida,não é tão facil...
E não vou deixar você sumir da minha assim....
Existe uma razão para eu ter te adcionado no MSN.
E a razão era te fazer...feliz !

Não some."

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Segunda-feira, 8 de Dezembro de 2008

*

Como um peixe-gato invertido,

a menina nada em águas profanas de juízo final. Como um peixe espada felino, a menina nada em águas perigosas de dilúvio, quarenta dias e quarenta noites, espiando os antigos templos de civilizações antigas, os trinta e três monumentos de maravilhas que Deus fez questão de destruir. A menina era um peixe.

Um peixe fértil de mentiras.

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Quinta-feira, 4 de Dezembro de 2008

As Mulheres Ocas

Nós somos as inorgânicas
Frias estátuas de talco
Com hálito de champagne
E pernas de salto alto
Nossa pele fluorescente
É doce e refrigerada
E em nossa conversa ausente
Tudo não quer dizer nada.

Nós somos as longilíneas
Lentas madonas de boate
Iluminamos as pistas
Com nossos rostos de opala.

Vamos em câmara lenta
Sem sorrir demasiado
E olhamos como sem ver
Com nossos olhos cromados.

Nós somos as sonolentas
Monjas do tédio inconsútil
Em nosso escuro convento
A ordem manda ser fútil
Fomos alunas bilíngües
De "Sacre-Coeur" e "Sion"
Mas adorar, só adoramos
A imagem do deus Mamon.

Nós somos as grã-funestas
Filhas do Ouro com a Miséria
O gênio nos enfastia
E a estupidez nos diverte.

Amamos a vida fria
E tudo o que nos espelha
Na asséptica companhia
Dos nossos machos-de-abelha.

Nós somos as bailarinas
Pressagas do cataclismo
Dançando a dança da moda
Na corda bamba do abismo.

Mas nada nos incomoda
De vez que há sempre quem paga
O luxo de entrar na roda
Em Arpels ou Balenciaga.

Nós somos as grã-funestas
As onézimas letais*
Dormimos a nossa sesta
Em ataúdes de cristal
E só tiramos do rosto
Nossa máscara de cal
Para o drinque do sol posto
Com o cronista social.

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Domingo, 23 de Novembro de 2008

Poema da Lesma

(Manoel de Barros)

 

se no tranco do vento a lesma treme
o que sou de parede a mesma prega
se no fundo da concha a lesma freme
aos refolhos da carne ela se agrega
se nas abas da noite a lesma treva
no que em mim jaz de escuro ela se trava
se no meio da náusea a lesma gosma
no que sofro de musgo a cuja lasma
se no vinco da folha a lesma escuma
nas calçadas do poema a vaca empluma!

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