Possuía feições grosseiras. Completava com a barba cerrada, mal-feita. O jeans rasgado e sujo ajudava na aparência desleixada. Camisetas repetidas causavam a estranha sensação de deja-vu nos seus poucos companheiros de rua.
Físico parco refletia junto aos olhos escuros todo vazio e a dor de vinte três anos perdidos. Há quem acredite que ele nunca amou - apesar de ter sido esse suposto amor o responsável pela sua reclusão.
Encontrou a infeliz na cama com outro, Artigo 121, Homicídio.
- Tá, aí você matou o cara, né ? – perguntei.
- Matei ela, claro.Esganei a safada até ela morrer. – concluiu.
Na delegacia estourou os outros B.O. : 155, 157 e 157, parágrafo 3.º, segunda parte, Latrocínio, roubo seguido de morte. Vinte e três anos de prisão. Vinte e três anos de prisão, cumpridos a risca, por um sistema penitenciário que tende a engolir pelo o esquecimento os pobres, os pretos. Vinte três anos é tempo suficiente para perder os pais, a família, e a vida. Vinte e três anos é o número que marca rugas, um garoto de vinte anos cheio de rugas, perdido no tempo, na rua. Talvez ele mereça.
Ele acredita que não.
- Vinte três anos... Que situação... Que situação... – dizia, fitando o horizonte.
. Mulata
. É esse cigarro, toda manh...
. Não comerei da alface a v...
. e agora um Deus dançou em...