I Funeral de rico
Rico quando vai
Desta vida, sempre vai de mau humor
Ir deitado de casaca é um terror
Abafado e morto de calor
Aturar a marcha fúnebre
Só de imaginar
Que os amigos vão deitar nos seus sofás
Vão tomar os seus vermutes, os seus cristais
E as suas mulheres principais
Já na beira do seu túmulo
- Gente, quanta gente
Que excelente funeral
- Ficas bem de preto
E o cabelo ao natural
- Dizem que o eminente
Triplicou seu capital
- Vai sobrar para gente
Que nem viu ele vivo
- Tem até donativo
Para as obras do hospital
II Enterro de pobre
Pobre quando vai
Sempre dizem que ele vai para uma melhor
Vai olhando aquela gente ao seu redor
Todos com poeira e com suor
Ele achando a coisa ótima
Só de imaginar
Que os amigos vão pagar o seu caixão
O barbeiro, o aluguel do rabecão
O vinho do padre, o sacristão
E o sermão na igreja gótica
- Gente, não tem gente
Tem parente pobre só
- Esse teu modelo
Mais parece um dominó
- Nem o indigente
Quis herdar o seu palitó
- Vai sobrar para a gente
Que nem viu ele vivo
- Tem até um passivo
No caderno do Jacó
Palavras são navalhas. Adeus é uma mera formalidade, o que está esgotado, já se esgotou há muito tempo. Não é preciso gastar muitos neurônios nem energia pra sacar que tudo isso é muito triste, tristeza, eu te amo, mas isso tudo já se esgotou há muito tempo.
O menino que eu conheci no parque hoje estava meditando, cara, e ele estava só de cuecas. Ele disse que treinava kung-fu em outro parque, um que ficava descendo a avenida. Sentei em posição de lótus e comecei a meditar também. Estava um frio danado, e quase devaguei imaginando como ele conseguia estar ali, só de cuecas. Meia hora depois, ouvi ele se levando e botando as roupas, e resolvi cair fora. Antes de vazar, perguntei a ele quando ele voltaria para ali, para que pudéssemos trocar ideias.
Aí a coisa ficou bizarra, pois o moleque, pouco mais de 11 anos, me olhou e disse que percebia uma tristeza estranha em minha voz. Disse então que havia acontecido uma coisa chata no dia anterior, e, após ele insistir, contei que havia discutido com uma pessoa que eu gostava muito. Disse que ela era uma aranha, daquelas bem peludas, e que me dava medo de pensar nela. Ele me disse que mulher é uma merda mesmo, e achei estranho ouvir isso de uma criança. A TV anda fazendo maravilhas com a geração de hoje.
Sabe, as coisas ficaram metafisicas demais para o gosto dele, e ele decidiu que não ia mais aparecer por ali mesmo, estava indo morar com sua mãe não sei pra onde. Deixou apenas essa frase, “palavras são navalhas”, que pra mim é trecho de uma musica do Belchior. E eu nem gosto de Belchior.
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