Palavras são navalhas. Adeus é uma mera formalidade, o que está esgotado, já se esgotou há muito tempo. Não é preciso gastar muitos neurônios nem energia pra sacar que tudo isso é muito triste, tristeza, eu te amo, mas isso tudo já se esgotou há muito tempo.
O menino que eu conheci no parque hoje estava meditando, cara, e ele estava só de cuecas. Ele disse que treinava kung-fu em outro parque, um que ficava descendo a avenida. Sentei em posição de lótus e comecei a meditar também. Estava um frio danado, e quase devaguei imaginando como ele conseguia estar ali, só de cuecas. Meia hora depois, ouvi ele se levando e botando as roupas, e resolvi cair fora. Antes de vazar, perguntei a ele quando ele voltaria para ali, para que pudéssemos trocar ideias.
Aí a coisa ficou bizarra, pois o moleque, pouco mais de 11 anos, me olhou e disse que percebia uma tristeza estranha em minha voz. Disse então que havia acontecido uma coisa chata no dia anterior, e, após ele insistir, contei que havia discutido com uma pessoa que eu gostava muito. Disse que ela era uma aranha, daquelas bem peludas, e que me dava medo de pensar nela. Ele me disse que mulher é uma merda mesmo, e achei estranho ouvir isso de uma criança. A TV anda fazendo maravilhas com a geração de hoje.
Sabe, as coisas ficaram metafisicas demais para o gosto dele, e ele decidiu que não ia mais aparecer por ali mesmo, estava indo morar com sua mãe não sei pra onde. Deixou apenas essa frase, “palavras são navalhas”, que pra mim é trecho de uma musica do Belchior. E eu nem gosto de Belchior.
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